sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Lacerda

"Os deste apelido provêm do Rei D. Afonso X, o Sábio, de Castela e de sua mulher, D. Violante de Aragão, por seu filho mais velho, D. Fernando de la Cerda, que nasceu a 24 de Janeiro de 1256, com uma guedelha de cabelos no peito, como dizem autores antigos. Recebeu-se com Branca de França, filha de S. Luís, Rei de França, e de sua mulher, Margarida de Provença. Morreu em vida do pai, no ano de 1275, deixando os seguintes filhos, havidos do matrimónio: D. Afonso de la Cerda, que casou com D. Joana Nunes de Lara, viúva do Infante D. Henrique e filha de D. João Nunes de Lara, senhor de Lara, e de sua mulher, Teresa Álvares de Azagra, cujos descendentes seguiram o apelido de Lara, e de D. Margarida de la Cerda, que foi mulher do Infante D. Filipe.

D. Afonso de la Cerda não sucedeu nos Reinos de seu avô, D. Afonso, o Sábio, porque seu tio, D. Sancho, irmão de seu pai, se introduziu na posse deles ainda em vida de D. Afonso X, que se inclinava a que o referido neto fosse o sucessor. Pedindo auxilio a D. Pedro, Rei de Aragão, para a obtenção do trono usurpado, este o reteve no seu Reino por assim lhe convir a seus negócios. D. Afonso intitulava-se Rei de Castela e nas pazes celebradas pelo Rei D. Sancho com o Rei Filipe, o Formoso, de França, foi prometido a este por D. Sancho largar o Reino de Múrcia a D. Afonso, com a condição de que ele abandonasse o título de Rei de Castela, ficando feudatário dos Reis de Castela, e que, por sua morte sem filhos, lhe sucedesse seu irmão D. Fernando de la Cerda. Prometendo a D. Jaime de Aragão socorrer D. Afonso para que pudesse tomar os Reinos de seu pai, este príncipe lhe deu o Reino de Aragão e foi jurado Rei de Castela, Toledo, Córdova e Jaen, mas de todos ficou privado, e só conservou alguns estados em Castela, os quais foram as vilas de Alva de Tormes, Bejar, Valle de Corneja, Real de Manzanares, Gibraleão, Algava, os montes de Greda em Magão, a Póvoa de Sarria, a terra de Lemos e alguns herdamentos na Andaluzia. Depois, D. Afonso XI lhe deu muitas vilas e castelos de juro e herdade, outras somente em sua vida e várias rendas do Reino. Afonso de la Cerda recebeu-se com D. Mafalda de Narbona, filha de Aimérico VI, Visconde de Narbona, e de sua mulher, Sílvia de Fox, de quem teve diversos filhos, que seguiram o apelido paterno. O filho terceiro, D. João Afonso de la Cerda, foi senhor de Gibraleão, Guelva, Real de Manzanares e Deza, por doação do pai. Viveu em Portugal alguns anos e o Rei D. Dinis lhe deu herdamentos, casando-o com a sua filha ilegítima, D. Maria Afonso, havida em D. Marinha Fomes, mulher nobres de Lisboa. A sua descendência, na segunda geração, voltou definitivamente para Castela.

Reinando em Portugal D. João I, veio de Castela um fidalgo chamado Martim Gonçalves de la Cerda, que se casou com D. Violante Pereira, filha bastarda de D. Álvaro Gonçalves Pereira, prior do Crato, e de Marinha Domingues, de quem teve geração, que, quase toda, seguiu os apelidos de Pereira de Lacerda.

D. João Ribeiro Gaio deixou uma quadra em honra dos Lacerdas, que diz:

Tanto forte como Samsão 
dos de Castela e Leão 
e do sangue de Navarra 
nasceu o deste brazão

As armas dos deste apelido, tanto em Espanha como em Portugal, são: Partido: o primeiro de vermelho com um castelo de ouro (Castela), cortado de prata, com um leão de púrpura, armado e lampassado de vermelho (Leão); o segundo de azul, semeado de flores-de-lis de ouro (França). Timbre: o leão do escudo."


In: Armorial Lusitano, Afonso Eduardo Martins Zúquete

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